-Sou só eu.
O caixão pesava sobre aquele chão sem dono, sem raiz. Mas pesava mais a dor. A indiferença do mundo a esta voz que se calava.
Foram 4 mãos desconhecidas as que carregaram aquele invólucro final. Indigno de tudo o que fomos em vida, ou o que não fomos. É lá que morre a esperança e fica guardada. Fica perdida.
Foram 2 mãos desconhecidas as que te lavaram o corpo pela última vez, as que o vestiram.
Aquele corpo que só eu amei. Aquele corpo que só a mim foi dado a conhecer. Tu não exististe. Não está ninguém aqui! O cemitério está deserto, e eu estou deserto de ti.
Ecoam-me os passos ainda na cabeça. Não me liberto. Sinto-me só…
Abriram um buraco na terra e puseram-te lá. Dizem que pertences. Que é lá o teu lugar. O teu lugar é comigo! O que faço agora?
Morte…
-Permite-me umas últimas palavras?
Chove. Chove sobre ti. Sobre o que já não és. E chovem palavras de uma boca que nunca soube quem és. E ninguém está a ouvir! Ninguém está a ouvir…
Eu ouço! Eu estou aqui!
O que faço agora?...
Morte…- ecoa em mim.
-Permite-me umas últimas palavras?
- Sim.
E agora? O que faço? …eu não sei estar aqui.
Continua o tempo a passar, como uma guilhotina, o tempo sobre mim. Ecoas em mim como um engano, que me fala do escuro que diz que ainda existes para lá da minha pele.
O vento. A chuva. Ouço o descer do caixão. E tu já não estás aqui… o roçar das cordas, e pousam-te na terra, como se nada fosse. Deixam-te ali…
São as últimas palavras: Não as quero ouvir.
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