Sunday, May 2, 2010

Porque estás aí meu pequeno?


Porque estas aí meu pequeno? Estás aí sozinho, sentado nos degraus à porta de um velho teatro sem falar com ninguém, sem ninguém te falar ou sequer ver. Tens uma multidão à tua volta. Todos falam. Todos riem. Todos festejam. Todos menos tu. Não te sentes só? Não queres falar com ninguém? Porque te encolhes contra a parede, como se quisesses fazer parte dela?
Estás à espera de alguém meu petiz? Olhas tudo à tua com esses teus olhos cintilantes marejados com lágrimas salgadas, mas que insistes em não deixar rolar. Não te reprimas. Não te preocupes. Eu estou aqui a olhar por ti. Chora à vontade, ninguém te verá fazê-lo, ninguém sequer olhará para ti. Parece quase como uma maldição que continua a persistir. És invisível, és ninguém.
Porque ficas aí criança? Podias ir para outro sítio, um lugar onde outros te vissem. Podias falar com as pessoas. Porque insistes em ficar sozinho? Porque insistes em não seres visto? Muda. Luta. Vive. Ficas aí com esse rosto pálido, esse ralo cabelo negro e essas roupas escuras que em tudo te ajudam a fazeres parte do que te rodeia. Não sobressais. Não és mais que paisagem.
Porque choras infante? Sei porque o fazes. Acredita, já estive aí. Não és o único. Um dia mudará, mas tens que te mover. Tens que sair das sombras. Eu sei que elas sempre te chamarão. Nunca te vão abandonar. Farás sempre parte delas e elas de ti, mas podes ainda ver a luz. Sim, podes. Mesmo nesta noite onde a Lua não brilha ainda podes ver a luz. Nunca será a mesma luz que a dos outros, mas mesmo assim é melhor poder vislumbrá-la. Quando te sentires mais abafado pelas sombras agarra-te a essa pequenina luz dentro de ti e esforça-te para abraçá-la e não a deixar fugir.
Porque ainda aí estás meu bem? Eu quero que vás e fales com esse emaranhado de gente abafador. É assustador, mas tu consegues. Não? Eu sei que consegues, mas se insistes… Fica então. Fica aí sozinho. Fica aí a sofrer, só te fará mais forte. Fica, que eu fico também. Não deixo que te toquem. Não deixo que te vejam. Não deixo que te ouçam. Eu faço-te invisível. Eu faço-te ninguém…