Monday, February 28, 2011

Nós feitos de ninguém

Quem sou eu para falar num "tu"?
Para dizer "a ti"?
Para fazer "por ti",
"Contigo"?

A escrita é solidão.
Eu, a mim, por mim, comigo.
Tu não.

Se porventura falar num tu
Serão então cartas nunca enviadas
Não por vontade, ou coragem, ou inteligência,
Mas por sua inexistência.

São cartas a um ninguém presente,
A um alguém ausente,
E a ambos, simultaneamente.

Quem és tu, afinal? Tu, a quem dedico tantos textos?

És um eu que não existe,
Um eu em potência, em vontade;
Um eu em falta de verdade.

Não existes. Não existo.
Tu e eu somos um.
Falo comigo quando falo contigo.

Contudo, és ao mesmo tempo tu
Em ti mesma, tu própria
És um tu comigo
És - somos um nós.

Falo. em simplicidade,
Com Ninguém.
Falo pela simples necessidade
De falar com a folha.

Wednesday, February 16, 2011

Vazio

Estou sentado na cama
a olhar a parede vazia.
Ligo a televisão para ter companhia.
Não me apetece estar sozinho.
Apetece-me estar mal acompanhado.
Nunca me apetece estar sozinho.

Morro para o exterior do quarto.
Só existe o quarto.
Só existe o silêncio e a ausência, comigo.
Só existe a falta.
Só existe a inexistência.

Alapo na cama, completamente inanimado.

Contemplo a parede
Caído contra a parede oposta.
Acompanhado pelo vazio que inunda o quarto
e eu.
A ambos.

Inunda-nos a nós, toma o quarto para si.
E fora das quatro paredes vazias,
o nada.
o nada em todo o lado.

O meu coração bate, e dá sinais de vida.
Rapidamente é também engolido

Onde estás
...

quem és

Friday, February 11, 2011

Doloris causa

Dói, e não sei do que é

Se da mão, da cabeça ou do pé
Se dói tudo, ou se só dói uma por todas

As dores que julgo ter
E que parecem doer
E que sinto moer.

Não sei o que me dói.
Só sinto a dor
De lembranças e memórias
De medos e esperanças
E do presente.
Do Agora.

Retiro a venda. Começo a ver.
Doem-me os olhos
Tirem-me esta nova dor...

...

Ninguém.