Monday, April 25, 2011

Sunday, April 10, 2011

Na palma da minha mão escrevias um mundo em mim. E eu, cega de felicidade, lia-o ao contrário, e lia amor para sempre, e uma reza de pertença. Lia palavras por existir, que não estavam na mão, estavam ainda na minha mente, engaioladas no remoto mundo onde um tu diferente daquele que me escreve na mão vive. Juntava letras separadas e apagava espaços. Unia-nos na palma da minha mão, numa união de tinta efémera.

Na palma da minha mão escrevias um mundo em mim. Escrevias amor paixão luz nudez eu tu. Tudo me dizia o mesmo, dizia-me o teu nome em tom grave de lume aceso. Arriscava-me a perder-te sem saber, mas naquele momento, em que escrevias na palma da minha mão com os teus dedos, perdíamo-nos os dois num mundo alheio. Exista somente eu para ti, e existias somente tu para mim. Tudo o resto era negro, era nada. O tempo não passava, o espaço não importa. Importavam somente os teus olhos verdes da relva, e o meu peito palpitante. Importava a luz solar que te iluminava para mim, ou o brilho apagado de uma lua nova que nos escondia do mundo que não nos pertencia. Queria dar-te todo o meu eu, todo o meu eu ardido por um lume que só o teu corpo conseguia abafar, e que crepitava quando os teus olhos verdes não estavam disponíveis para contemplar. Batia o meu coração corredor nas horas antes de te ver, antes de te abraçar, antes de te beijar, antes de fazer amor contigo, antes de te abraçar, outra e outra vez; batia o meu coração corredor nos momentos após te deixar, alimentado pelos resquícios do teu cheiro e do som da tua voz.

Na palma da minha mão leio um mundo engolido pelo tempo, leio um nada feito a partir de um passado que foi tudo. Foste tudo para mim, até te ires. Foste o meu mundo, foste parte integrante do meu eu. Eras eu e eu era tu, até te ires. De ti, ficam memórias de uns anos que foram os melhores anos, ficam presentes guardados em caixas amarrotadas de esquecimento, ficam as marcas indeléveis da tua passagem pela minha vida, e fica um amor que não encontrou par. De ti, fica um mundo só nosso, guardado algures na virtualidade de uma possibilidade que passou ao lado do real e do tangível. Fica um mundo que revisito, por vezes, em sonhos acordados, onde contigo estou de novo, vivendo o fantasma de um sentimento que me dominou demais para me abandonar por completo enquanto meu coração bater.  Foste-te, e agora, sozinha, em frente à lareira, inspirada pelo crepitar de um lume que finjo ser o teu, revisito-te mais uma vez. E abraço-te só mais uma vez...

Tuesday, April 5, 2011

a negrura iluminada

quando à noite olho o céu e não estás comigo
o vazio do céu manifesta-se em mim
e eu pereço um pouco

já não olhas o céu comigo
quase nunca olhaste
eu olhava-o pleno
e nao te via a desviar o olhar

agora olho-o e a tua presença preenche-me
com o vazio
as estrelas iluminam a ausência de ti

o mundo à minha volta desaparece
e o nada enche-me de tudo
respiro um ar que me transporta
para onde tu estás
daí fico no mesmo sítio

a minha mão no vidro da minha janela
e a tua num algures do planeta