Thursday, December 8, 2011

Carta a Um Fantasma

Não sei quem és, e ainda assim, conheço-te, talvez, melhor do que gostaria de conhecer... Conheço-te de dentro para fora. Porque te fiz a partir de mim.

Quero agradecer a tua inexistência - dou graças por não existires. Porquê? Porque materializarias tudo o que eu desejo em alguém, e se existires, quem me garante que serás perfeição para mim? Hm? Quem é que me diz o futuro? Prefiro ir coleccionando pedaços de ti ao longo do tempo.

Acho que já tenho alguns, sabes? Acho que já encontrei alguns pedaços da tua alma, mundo fora, e guardei-os para mim; sou eu quem os tem. Não sei se já o sabias... não vieste à minha procura...

Mas hoje... esta noite... queria que estivesses comigo. Agora. Preciso de ti, preciso de braços, preciso de peito, preciso de pele... e de coração. E alma, preciso de alma. Mas é como te digo: se não existes, como é que eu te posso desejar, e querer perto? Essa é outra pergunta... Como é que posso querer a alguém... que existe dentro de mim apenas?

É por isso que te escrevo. Falar-te, escrever-te... comunicar contigo... é como se te criasse, é como se existisses no mundo, só estando longe. Com esta carta a um fantasma faço de ti carne e osso, pele e órgãos, realizo-te, crio-te - a partir do nada. Por isso, e porque agora existes, peço-te, atende ao meu pedido, volta.

Vou estar à tua espera. Já sei como és, conheço-te... Vais-te fingir de desinteresse, vais dizer "agora não posso... estou com demasiadas ocupações", vais-me gozar, só para veres a minha cara vestida de espanto falso quando realmente te vir chegando... Porque eu sei que te dá um gozo enorme excederes as expectativas que achas que me impuseste... Pois olha, estou esperando. Não demores muito.