Wednesday, October 28, 2009

The Road Taken

Quando passei por ele, nunca adivinharia o que aí estava para vir. Passeava no jardim normalmente, a caminho do trabalho. Estava um dia explêndido, cheio de sol e cor. Fazia-se sentir aquele calorzinho que não exagera, e que nos permite andar de t-shirt. E aquela briza. Não sei quanto aos outros, mas a mim, é o tipo de condições meteorológicas que não consegue estragar-me o dia.

Mas nesse dia, uma imagem colou-se na minha memória, e para sempre a recordaria, quando soube do que acontecera. Conhecia o moço muito superficialmente, falara com ele duas ou três vezes, quando em grupo. Mas nunca adivinharia o que se iria passar.

Quando passei por ele, nesse dia, nesse mesmo jardim, ele estava todo curvado sobre si mesmo, olhando para os joelhos, agarrando nessa zona das calças com muita força, como se estivesse a tentar prevenir um vómito. A sua face estava vermelha, olhos contraídos, respirava com dificuldade. Senti uma vontade de ir falar com ele, saber o que se passava, e até estender-lhe uma mão, se necessário fosse. Mas antes que conseguisse virar para trás, já ele passava por mim, bufando penosamente, indo rápido para algum sítio. Nunca mais o vi. Só vi depois a sua face no jornal.

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Não queria, de forma nenhuma, saber o que se escondia atrás da porta em que eu não conseguia parar de pensar, apesar de me tentar proibir de o fazer. Oh, mas as facadas que eram cada espreitadela que eu dava para dentro da porta, faziam-me tremer de suores frios. Estava virado para baixo, num parque qualquer, mas a minha mente estava longe; estava naquele corredor vazio, especado em frente a uma porta fechada, mas que eu queria abrir, apesar do medo que sentia. Queria vomitar. Queria vomitar mas não podia.
A minha cabeça girava. Não podia ver o sol, a alegria das pessoas que em rodeavam. Não conseguia, deixavam-me doente, enjoado. Só queria que acabasse. Só queria que o sofrimento acabasse, e que o meu estômago relaxasse. O meu estômago estava contraido, as minha mãos suavam, as minha pernas estavam fracas. Eu não tinha hipótese... Eu teria que me pôr a pé e lá ir.
O pensamento que insistia em me assaltar atirava-me ao chão, perseguia-me, dava-me tonturas. Eu sabia. Eu não duvidava, eu sabia, como facto, o que se passava. Sabia onde eles estavam, como eles estavam, com quem eles estavam... A única coisa que eu não sabia era porque eles estavam.
Pus-me a pé, incapaz de me conter mais. Comecei a andar em direcção ao apartamento, em passo decisivo, tentando ao andar expiar a enérgica devastidão que me assolava. A solidão impunha-se a mim, e eu caminhava direito a ela.
Não contive as lágrimas, a caminho da casa. Chorei um amor perdido, chorei um passado acabado, chorei um futuro perdido e chorei um presente em desespero. Chorei por mim, chorei por ela, chorei por ele, e chorei um pouco mais por mim. Chorei por cima da calçada, chorei a quem olhava para mim, chorei os meu olhos por inteiro.
Estava-me a ir a baixo, e não podia. Pensei na sua face quando abrisse a porta. O meu coração começou a palpitar de ódio, um ódio profundo. Um ódio que me dava forças. Queria lá chegar. Queria lá chegar, e matá-lo com as mãos nuas. Queria mandar a porta abaixo, queria que me ouvissem, queria castigá-los. Cada passo que eu dava era mais uma sentença. A cada passo eles estavam um pouco mais mortos.
Não, disse uma vozinha, eles não podia estar mais vivos. Não podiam estar mais felizes - epuisés mais ravis. Feliz como nunca seria contigo. Ela está, neste momento, enquanto derramas essa lágrima, nos seus braços, nua. Está nua, e sente prazer em se desnudar ao seu amante. Passa-lhe a mão no peito. Sentem o corpo alheio, ambos. Cheiram-se, desejam-se. Os braços dele pegam nela, e sentam-na na secretária. Ela olha para ele de cima, cabelo por cima da cara. Ele sente as pernas dela, ela sente as mãos dele com as suas próprias mãos. Ele beija-lhe a barriga. Sente as costas dela. Acaricia-lhe os seios. Chega-a para ele. Enconstam-se. Arfam. Eles arfam de desejo. Querem-se.
Entrei no prédio. Chamei o elevador. Subi ao sétimo andar, e, saído do ascensor, encarei aquele corredor. O silêncio estava embutido nas paredes, no próprio ar. As minhas mãos, cerradas, cortavam-me as palmas. Caíram-me mais uma ou duas lágrimas. Dei o primeiro passo e nunca mais parei. Cheguei ao fim, virei para a esquerda, olhei para a placa que marcava "72" e bati três vezes. Esperei dois minutos e voltei a bater. vai, disseram agora. Ela abriu-me a porta em camisa de noite, sem calças. Entrei, procurei-o, vi-o. Ele viu-me também.
Atirei-me da janela e voei do sétimo andar até-

Monday, October 12, 2009

Desculpa. Mas esta noite não quero mentir. Finges que vens da guerra mas não vens. Entras em casa pousas o copo e deitas-te na cama.
Não comes porque já não sentes o corpo e não perguntas pelo teu filho porque não te lembras de ter um. E entre gritos e berros, porque não sabes susurrar, sentas-te na cama e apregoas mundos que nenhum de nós viu. Onde apenas a tua rudeza, o teu sobejo pensamento pode entrar.
Na cama o teu filho chora e ainda assim não o podes ouvir. A cada pingo desta última esperança, que se escorre de mim, incha o teu orgulho.
Hoje sou eu quem sai da cama mas não reparas. Deito-me no sofá com o cobertor por cima e tu ficas sentado na cama aos berros com a parede. E ao olhá-la vês-te no fundo de um copo como um herói quando na verdade te sentes um traidor...
Quem sou eu para te julgar? E como o posso fazer, se todas as noites me preocupo somente com ensurdecer os teus berros, para que na voz da nossa criança eles não possam mais crescer. Quando todos os dias saio de casa para lhe dar de comer, e quando volto? Quando volto não estás, não sei de ti... mas já não me interessa saber. Porque sempre que chegas, chegas assim... e isto que trazes contigo nao é o homem que amei.
Se te molda a razão talvez não a tenhas. Se te destrói em ti... talvez não te tenhas também...
Do lado de lá,ele chora. Um choro ensurdecido pelos teus berros e ninguém o ouve- só eu. Só eu porque o ouço por dentro, enquanto choro também.
No dia seguinte levantamo-nos todos e ao sair de casa enquanto lhe pego na mão penso em uma outra casa que hei-de ter. Quando o meu pé toca na calçada levo a mão à boca, por entre o cansaço esqueci-me de como dói a tua mão na minha cara.
Mas sempre que acordo, dói-me mais a tua voz, a tua irresponsabilidade e a forma como desprezas o que um dia amaste.
Amanhã não vou voltar. Porque já não te sei perdoar. Amanhã vais ficar sozinho e eu quero que fiques assim. Porque só assim podes saber como dói. Como é a dor quando até hoje não a soubeste sentir.
Não. Por mais que queira, não te posso julgar. Mas julgo que não posso ficar.

No dia seguinte ele chegou, como habitualmente fazia cambaleou pela entrada. Caiu no sofá e berrou. Não sabemos ao certo porque berrava, mas não importava saber porque nele nada existia senão isso. Senão a raiva de um homem que já não sabe amar. Durante toda a noite berrou como se não estivesse sozinho. Os vizinhos por entre os berros habituais não souberam que nessa noite ele não bateu em ninguém.
Na manhã seguinte: O silêncio de uma casa vazia. O silêncio de um armário sem roupa, de uma cama sem gente e um homem... um homem que encolhido sobre si chorava. E por vezes ao abrir os olhos ele levantava a cabeça e esperava que tudo tivesse mudado mas o armário continuava vazio e o silêncio... O silêncio lembrava-lhe o passado.