Monday, November 2, 2009

As Minhas Costas


Estamos a passear pela cidade, as pessoas passam por nós, olhando e outras não, apenas um dia normal como os outros. Caminhamos lado a lado, com uma certa distancia, sem nos tocarmos como sempre fazemos, essa difícil mas reconfortante situação, demasiado comum entre nós e estranha para o mundo. Subitamente, ao passarmos por uma brecha ente dois prédios, o Sol do entardecer bate em nós. Tu com essa linda blusa negra dizes-me:
- Abraça-me!
Eu hesitantemente mas sem pensar muito nisso abraço-te, tu tentas-te desculpar com uma tal invenção de estares com frio, como sempre fazes. Aceito o que faço, estranhamente, e tu pareces gostar e pergunto-me porque nunca mo pediste antes.
Lembro-me, recordo momentos passados, como num sonho. Numa tarde de Verão pegar em ti ao colo e apesar de protestares, nem tentas te libertar. Num concerto ao qual me convidas-te e eu a sentir-te bem perto de mim. No nosso café habitual onde tu me elogias e eu coro estupidamente. Os teus constantes convites românticos. Os teus lábios tocando suavemente o meu pescoço. A minha mão tocando gentilmente na tua e tu retrais-te ofendida. Isto interrompe as minhas memórias.
Penso em todos os raros avanços que tentei, em todas as palavras doces que te dirigi e a tua fuga irracional, a tua renegação ao meu afecto. Depois vejo as tuas tentativas de me tocar, de me sentir, de me convencer que é tudo pura e simplesmente natural. Realizo-me desse impasse, dessa constante hesitação. Apercebo-me do poder que tens, o poder que te dei sem me aperceber. Manipulas-me como queres e eu, muito ignorantemente, sigo-te, como um cachorrinho perdido. Só tu mandas, só tu tocas, só tu sentes, só tu podes mostrar afecto. Eu tento, tu foges, tens medo…
Nós continuamos a caminhar abraçados, com um movimento mecânico e estranho pelo contacto, mas bem-vindo e reconfortante. Gosto disto, gosto de te ter assim, comigo. Passear pelas ruas sem rumo, sem sentido, sem intenção.
Como gosto estar contigo, estar perto de ti, passar tempo contigo. Adoro que tu venhas ter comigo, que me mostres afecto, que me mostres o mundo. Não é isto que preciso.
-Adeus!
Tu ficas a olhar, com um ar interrogativo, para mim, enquanto tentas descobrir o que se passa, o que provocou esta súbita reacção. Não te mexes, não sais do mesmo lugar aparvalhada. Enquanto olhas para mim, para as minhas costas eu vou-me, para não mais voltar…

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