Tuesday, November 3, 2009

Nuvem


Ele caminha sozinho por aquelas ruelas a pensar no que fazer, no que dizer, no que mostrar. Sente-se tentado a destruir, a desfazer, a despedaçar algo, alguém. Mas não sabe, não sabe de nada.
Caminha sem sentido, sem rumo, na semi-obscuridade, os que passam por ele, reparam todos, mas desejam não o fazer, pois o ele negativo invade cada poro das pessoas. Percorre a cidade toda e vê gente sem ver, os seus amigos fogem, nem chegam perto dele pois vêm, mais que sabem, que ele os escorraça. Desejam não olhar, não ver aquela desgraça em que aquele ser, aquela pessoa se tornou, por não saber.
Começa a chorar sem se controlar, não sabe porquê, porque razão, apenas sabe que não sabe. Ele simplesmente não sabe. E isso irrita-o, trespassa-o por dentro, esta ignorância incompreensível.
Está a morrer por dentro e ele sabe-o. Ele sabe disso e mesmo assim não quer saber, pois ele só quer ter a certeza, só quer saber. Mas não sabe, não consegue saber, não pode saber, não agora.
Tenta se lembrar de quando tudo começou, porque começou, onde começou, mas não sabe. Foi como se estivesse destinado, como se a natureza assim o quisesse e tal aconteceu naturalmente, tal como decidiu que todo ele se torna negro, que todo ele chovesse.
Anda sem parar, não sabe se para fugir, se para procurar, mas continua a caminhar, a percorrer a cidade. Não para. Não quer parar. Não pode parar.
Uma dor trespassa-lhe o peito olhava para o chão, mas isso não o impediu de saber o que se encontrava á sua frente, não precisava ver, não precisava cheirar pois sentia, o seu corpo tal lhe dizia. Ele não queria acreditar, mas assim era. Como um raio ele tornou-se luz, tornou-se um final de dia resplandecente. Levantou os olhos e viu, viu na sua cara, no seu olhar o reflexo do seu. Como duas criaturas que são um só ser, juntaram-se, agarraram-se, beijaram-se como se não houvesse amanhã…. Beijaram-se como se não existissem…

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