Tuesday, September 22, 2009

Saberia Ela...


A sua pele branca e fria, salpicada pelas gotas de chuva, os seus longos cabelos negros espalhados á sua volta, numa poça de um liquido escuro, e os seus olhos, os seus olhos fixados num céu, que não podem ver.
Que horrível noite de Inverno para estar ali.
Saberia ela que seria a última vez que iria ao trabalho? Saberia que aquele cliente que insistiu em contar-lhe a sua vida, seria a última pessoa com quem falaria? Saberia ela que o seu peixe irá definhar depois da última vez que o alimentou nessa manhã? A última vez que se penteou e vestiu. A última vez que despachou a sua mãe ao telefone e a última vez que almoçou com a sua irmã.
Porque será que decidiu se desviar do seu caminho habitual? Saberia ela o que a esperava naquele beco escuro? Saberia do homem esfomeado, não só de comida, que lá estava? E saberia ela do punhal que ele escondia? Quereria ela sentir aquela dor no seu âmago e o sangue quente a jorrar naquela noite fria? Porque não soltou ela uma única lágrima? Porque não gritou ela de dor, raiva, frustração enquanto desfalecia, por ter a sua vida interrompida daquela maneira?
Nesta noite escura, fria e solitária, tirada de uma história de terror, o beco, o homem, o punhal, a dor… o alivio.
Que horrível noite de Inverno para estar ali…
Que horrível noite para se morrer…

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